3 de dezembro de 2010

Desvendando o DNA dos peixes do Médio Araguaia

Nos laboratórios do GEPEMA pesquisa-se a genética
dos peixes
Estudar os padrões citogenéticos e moleculares de pirarucus, piaus, cascudos, lambaris e outros peixes existentes nos rios, afluentes e lagos do Médio Araguaia são interesses que movem o Grupo de Pesquisa em Peixes do Médio Araguaia, conhecido como GEPEMA. O grupo está localizado estrategicamente no Campus I do Campus Universitário do Araguaia, da Universidade Federal de Mato Grosso, na cidade de Pontal do Araguaia, banhada de um lado pelo rio Garças e por outro pelo rio Araguaia.
O objetivo é conhecer os padrões de diversificação cromossômica de cada espécie de peixe, na busca de informações que possam auxiliar no conhecimento da ictiofauna da região. Mas, porque estudar os cromossomos e conhecer a genética dos peixes que habitam nossos rios? Como explica o pesquisador e coordenador do Grupo, Paulo César Venere, ao se identificar os marcadores genéticos das espécies, torna-se possível a caracterização dos peixes do sistema Araguaia-Tocantins e sub-bacias da região Centro-Oeste. “Assim, estamos produzindo um conjunto de dados que podem ser úteis na própria caracterização e consequente quantificação da biodiversidade do sistema Araguaia-Tocantins, colaborando com o estabelecimento de políticas de proteção e manejo da ictiofauna no estado de Mato Grosso.”, destaca ele. De posse destas informações, o GEPEMA tem participado ativamente das discussões sobre normatização da pesca no rio Araguaia e tem desenvolvido alguns trabalhos de cunho técnico junto com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente ( MT).
Com os trabalhos desenvolvidos é possível reconhecer as relações de parentesco entre diferentes espécies, levantar dados que permitem caracterizar espécies que são difíceis de serem reconhecidas apenas pelas características externas e identificar possíveis alterações no material genético, advindas do uso de agentes poluentes ao longo dos tempos. O grupo também tem se dedicado a buscar marcadores moleculares que permitem identificar o sexo de algumas espécies de peixes de importância na piscicultura, mesmo enquanto esses são jovens, como é o caso do pirarucu (Arapaima gigas), o maior peixe de escamas da região Neotropical. As informações podem contribuir para as perspectivas econômicas de criadores.
Para o desenvolvimento destes trabalhos, o GEPEMA, além de estar imersso nas águas dos rios da região, possui uma infraestrutura formada por laboratórios de microscopia e de biologia molecular, um laboratório geral para triagem e manipulação de peixes e uma sala de coleção ictiológica, com centenas de exemplares conservados em formol e álcool. São parceiras nas pesquisas a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Campus de Botucatu. Os principais apoiadores financeiros são: Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT).

Uma nova espécie descoberta
Entre as tantas descobertas do GEPEMA, está a identificação de uma nova espécie de peixe do gênero Astyanax, chamada pelos pesquisadores de Astyanax xavante. O epíteto xavante é em referência a etnia de índios Xavante, os nativos habitantes da Serra do Roncador e médio Araguaia, Mato Grosso. A nova espécie foi encontrada em abundância nos cursos superior e médio do córrego Avoadeira, Parque Estadual da Serra Azul, Barra do Garças, Centro-Oeste do Brasil. A nova espécie se distingue das demais do gênero pela combinação de caracteres pigmentares, morfométricos, merísticos, morfológicos e dentários.

Pirarucu em foco
O pirarucu, peixe da Bacia Amazônica, explica Venere, é um peixe de grande porte e de importância na pesca artesanal e mais recentemente na piscicultura brasileira, tem sido um dos principais objetos de pesquisa do GEPEMA. As pesquisas com o pirarucu visam principalmente melhorar a caracterização de sua estrutura cromossômica com base em marcadores cromossômicos que permitam comparar com populações de diferentes locais da Amazônia brasileira. A pesquisa também deseja reconhecer o sexo de exemplares jovens, uma vez que não é possível diferenciar machos de fêmeas antes deles atingirem maturidade sexual.

Patrícia Kolling

0 comentários: