5 de dezembro de 2012

Resenha - Os bastidores da festa proibida

Lázaro Gomes
Acadêmico de Jornalismo

A primeira impressão nem sempre é a que fica, e um livro, de fato não pode ser julgado pela capa – ou pelo título -, que em primeiro momento traz a ideia de ser mais uma obra a tratar com sensacionalismo o universo das festas conhecidas como raves e um tema que abrange saúde pública, segurança e política: o uso de drogas.

Em “Festa Infinita - O entorpecente mundo das raves” (Editora Ediouro, São Paulo, 2009, 304 p.), o jornalista Tomás Chiaverini traz uma abordagem de fácil entendimento, em que busca explicações didáticas sobre termos específicos, desde o surgimento das festas eletrônicas, em seu contexto nacional e internacional à evolução desse estilo de música.

Em uma viagem instigante e reveladora, Chiaverini nos conduz aos principais eventos de festas do gênero, como a Universo Paralello e Mega-Avonts.

O autor revela detalhes de um submundo em que milhares de jovens de estilos totalmente diferentes convivem em uma mesma “vibe” de harmonia, onde parece existir um espaço reservado para a diversidade.

Jovens embalados por um sentimento de liberdade, em que o único compromisso existente é o descompromisso, uma maneira alternativa de viver a vida e buscar novas vivências em que o compartilhar ganha um sentido valioso e a noção de coletividade se torna indispensável.

Alguns, como o DJ André Meyer, defendem que ao longo dos anos as raves acabaram se tornando algo muito próximo de uma festa comum, em que ninguém mais sabe o que é espiritualidade. Não existe a preocupação em valorizar os conceitos de paz, amor, união e respeito (PLUR - Peace, Love, Union, Respect), a base da cultura rave.




Nesse contexto, Tomás nos traz importantes informações, como a evolução do consumo e do tráfico do ecstasy que, noBrasil, acompanhou o crescimento das raves, destacando que a presença da droga nessas
festas de música eletrônica tornou-se tão importante, que virou quase uma necessidade. Existem aqueles que atribuam a energia positiva sentida na pista ao uso dos “comprimidos coloridos”.

O autor ainda narra casos de jovens mortos nesses eventos, sendo na maioria das vezes relacionados ao abuso de drogas. Conduzidos pela imprensa de forma sensacionalista, servem de argumento para um número crescente de políticos, formadores de opinião e pais que defendem a proibição das raves.

Os organizadores tratam como fatalidades inerentes a qualquer evento nesse sentido. É fato que a imagem do universo rave diante da opinião pública não é das melhores.

Na segunda parte da obra, há fragmentos que tornam incoerentes alguns dos relatos do autor, principalmente no momento que afirma serem raros os ravers que participam desses eventos sem ingerir alguma substância, concluindo que essa imensa quantidade de entorpecentes parece ajudar na manutenção da boa convivência. Nesse sentido, ele trata a energia das drogas como permissão para longos mergulhos num transe hipnótico, em vez de considerar uma consequência, podendo, inclusive, ser fatal.


O autor afirma com propriedade que nesses festivais é raro encontrar ravers que estejam apenas em busca de uma intensa experiência com o ecstasy e música eletrônica. Como forma de promover os adeptos desse

estilo de vida, os define como apolíticos, com um lado espiritual que independe de religiões, comumente envolvidos com questões ambientais.

Por fim, Tomás faz um relato minucioso e detalhado da viagem alucinógena causada pelo uso do ecstasy, com o acréscimo de conteúdo informativo e inclusão de dados de consumo de usuários. Ele relata a experiência com um fascínio quase contagiante, ressaltando sua preocupação com a apologia ao uso de drogas. Curiosos, entendedores ou não do assunto, boa “viagem”!







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