18 de agosto de 2013

Atropelando o Cerrado aproveita animais silvestres

Pássaro Martim-pescador-verde (Chluruceryle Amazona)
após realização do processo de taxidermia.
“Atropelando o Cerrado” é um dos projetos de extensão do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, do Campus Universitário do Araguaia (CUA). Iniciado em 2012, tem como proposta utilizar a técnica da ‘taxidermia’ em vertebrados terrestres do Cerrado encontrados mortos por atropelamento em rodovias da região ou doados à universidade. A prática é um jeito diferente e interessante de preservação do corpo do animal morto. O processo de ‘conservação’ faz com que o bicho mantenha suas características físicas e expressões de vivo, como os olhos abertos.
Você deve estar se perguntando como isto é possível? A resposta está na técnica da taxidermia, termo grego que significa “dar forma à pele”. É a arte/técnica de preservação da pele e do tamanho dos animais, uma forma de conservá-los para exibição ou estudo. Antigamente o termo “empalhar” era usado como sinônimo de “taxidermizar”, pois eram utilizados manequins de palha e barro para preencher o corpo dos animais e manter suas formas. Hoje estes manequins não são mais utilizados. Mas mesmo assim, muitas pessoas ainda conhecem animais que passam por essa técnica como empalhados.
No projeto, o animal recolhido passa por um processo de corte para retirada dos órgãos do seu interior, permanecendo as extremidades de seus membros e o crânio, para manter a forma do corpo. Logo depois, o
animal recebe uma substância química que retira a gordura da pele e evita a ação de fungos. Uma estrutura de arame é confeccionada para dar sustentação ao corpo, que é preenchido com algodão e costurado. Caso o animal chegue ao laboratório com a pele muito suja, é lavado e secado. Após todo esse processo, o animal taxidermizado é colocado em uma base de madeira.

Pesquisadores envolvidos
O bolsista Sérgio Antônio dedica seu tempo ao projeto e aplica a
aprendizagem em trabalho final de graduação.

“Atropelando o Cerrado” é coordenado pela professora Márcia Cristina Pascotto e tem apoio do bolsista Sérgio Antônio da Silva, que cursa o 7º semestre de Ciências Biológicas. Eles explicam que a técnica é trabalhosa, requer treinamento e prática. O projeto, destaca a professora, é importante, pois complementa o conhecimento sobre as características anatômicas dos animais silvestres do Cerrado. “Utilizando esta técnica
podemos mostrar os animais para as gerações futuras. Um animal bem preparado, dependendo do material utilizado, pode durar 15 anos”, ressalta.
A professora acrescenta que é intuito do projeto a criação de uma coleção didática de peles e esqueletos para estudantes do curso. “Enfrentamos muitas dificuldades; como espaço limitado, falta de mão de obra, às
vezes de material, mas, devagar, a gente chega lá. Tem que ter paixão”, afirma. O primeiro animal que passou pelo processo de taxidermia no laboratório de ornitologia foi um pombo doméstico. Hoje já são 15 animais taxidermizados, a maioria aves. A ação é também ferramenta de educação ambiental e material didático para o ensino sobre a vida ambiental, pois mantém as características físicas dos animais recolhidos e muitas vezes também reconstitui seu habitat natural.
Para o estudante, pioneiro da ideia no curso de Biologia, o projeto contribui para a sua formação: “Para mim, isso me aproxima mais do curso. O curso forma professor e o projeto faz com que eu tenha um fundamento, conhecimento novo, aprofundamento. Hoje tenho bagagem.” O aprendizado se efetiva com erros e acertos. Sérgio conta que no início do projeto, voltando de uma aula de campo, coletaram um tamanduá. “Ele estava perfeito. Começamos a utilizar a técnica da resina, ficamos trabalhando durante o dia todo. Congelamos a pele e quando fomos utilizar, ela estava toda estragada, foi muito constrangedor. Foi
um teste, com os erros é que se aprende”, justifica Sérgio.








Texto: Muryllo Simon
Fotos: Márcia Pascotto

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