5 de dezembro de 2012

Professor da UFMT discute democracia e autonomia na educação em seu novo livro


ENTREVISTA

A partir de um diálogo com filósofos e escritores, como Paulo Freire e Cornelius Castoriadis, surgiu o livro: “O sentido da democracia e da autonomia, a reinvenção da educação e da escola”. De autoria do professor Odorico Ferreira Cardoso Neto, também conhecido como Kiko, o livro lançado pela editora da UFMT (EdUFMT) traz uma discussão acerca de aspectos da democracia e da autonomia tendo em vista a dimensão da educação e da escola. Em entrevista ao Info Campus, o professor fala sobre seu livro e explica questões importantes da educação brasileira, como as cotas nas universidades.

Como surgiu a ideia para o livro?

É a minha tese de doutorado, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), transformada em livro. A tese é baseada na ideia da democracia e da autonomia como objetivo da educação e da escola, a partir de Cornelius Castoriadis, um autor grego naturalizado francês que já veio ao Brasil.

Qual o público alvo do livro?

São profissionais da educação, alunos, pessoas que se interessem por discussões de política pública, que gostem de discutir educação e escola e os curiosos por entender como a gente pensa o processo educacional.

No texto de divulgação do livro, você fala sobre a educação nas escolas ser domesticada. Qual seria o principal problema dessa educação domesticada?

É uma educação que não pensa, ela não cria nada. Paulo Freire vai nos falar da educação bancária, em que
os alunos são depósitos de conhecimento. Existe só teoria e não existe prática, existe só conteúdo, não existe crítica, não existe ação ou reflexão.
Então essa domesticação faz muito mal. É uma educação voltada para quem? Para quem pensa que, agindo com autoridade, na verdade com autoritarismo, pode impor as coisas de “cima para baixo”.
Professor Odorico Cardoso

Como fazer para que a educação tenha como propósito uma sociedade mais autônoma?

A gente constrói o edifício tijolinho a tijolinho. Para você mudar, precisa construir as perspectivas de mudança. Este “como” tem a ver com formação, tem a ver com a disposição de pensar a realidade, de fazer acontecer, mas com um preparo teórico que ajude uma prática engajada, transformadora, emancipatória.
É importante entender que a escola é um espaço de ensino, de aprendizagem, mas não é o único espaço. Você tem que entender que a família educa, que a sociedade educa, a convivência com os outros educa e a escola faz parte disso. Ela pode ser o centro de desenvolvimento da formação humana, desde que compreenda que existem outras agências formadoras. 
É como dizer que educação de qualidade se faz só com vontade pessoal. É mentira. Educação de qualidade se faz com dinheiro público, com política pública, com construção de conhecimento, de saberes e tudo isso depende de uma formação que tem que ser continuada e inicial. E de novo citando Paulo Freire, dimensiona a ideia de que a gente não faz “para”, a gente faz “com”.


Você acredita que uma educação autônoma resolveria problemas na educação básica, que eliminariam a necessidade de medidas paliativas, como cotas nas universidades?

Eu acredito que a questão das cotas no Brasil é uma questão social, de dívida com aqueles que foram massacrados durante 400 anos na história do país. Então construir uma educação autônoma significa construir perspectivas de cota para atender as pessoas que foram marginalizadíssimas no processo a vida inteira. A cota não é um favor, não é uma política assistencialista. Ela não é uma coisa que vai ficar eternamente, mas ela tem que dar condição para que todos tenham as mesmas oportunidades e historicamente, isso não aconteceu para todos no Brasil, de maneira especial para os negros.

Quais os seus projetos futuros?


Tenho os projetos de Pibid, de extensão, e agora estou em uma empreitada de discutir Marx e Paulo Freire na perspectiva da educação. Essas discussões podem se transformar em livro.
O livro é resultado da tese de doutorado do
professor Odorico Cardoso

O tema do livro está presente nesses projetos?

De certa forma ele acaba embutido, até porque, toda a pesquisa que eu realizei até hoje, tanto para o mestrado quanto para o doutorado, era voltada a entender a democratização da escola, como ela funciona e como ela se organiza. Porque a gente precisa democratizar o processo educacional. A ideia da democracia e da autonomia se sobrepõe a qualquer tipo de pesquisa que eu coloque para o desenvolvimento de alguma coisa em que eu esteja à frente.

O objetivo então é contribuir com a reinvenção da educação?

Da escola e da educação. Se eu conseguisse ajudar as pessoas a refletir sobre isso e pudesse dar a minha contribuição quanto a isso, me sentiria minimamente feliz.

Texto e entrevista: Gracielle Soares e Nahida Almeida
Foto: Graci Sá




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