5 de dezembro de 2012

Diversidade cultural invade o Campus Universitário do Araguaia

Dificuldades, mudanças e descobertas enfrentadas na adaptação à nova cidade e estado

É só caminhar pelas dependências do Campus Universitário do Araguaia (CUA),da Universidade Federal de Mato Grosso, e prestar atenção no que dizem as pessoas, que dá para perceber sotaques diferentes
e oriundos de várias regiões do país. É um “r” mais puxado de um lado, uma fala com chiado de outro.

Essa diversidade deve-se a dois fatores: a unificação do vestibular através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), processo de seleção de alunos que ocorre desde 2010 na instituição; e a adesão da universidade ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que trouxe para Barra do Garças pessoas de diversos lugares do país.

O estudante de Biomedicina Marcelo Salvatte Pinheiro percorreu cerca de 1.100 km de sua cidade natal, Americana – SP, até Barra do Garças. Ao contrário da maioria dos alunos, ele afirma que não sofreu muito por estar longe dos pais, pois não é a primeira vez em que ele mora distante da família. Antes de ingressar
na UFMT, Marcelo havia estudado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro – SP.

As maiores dificuldades de Marcelo foram quanto às questões financeiras e estruturais: “Comparando a estrutura da Unesp e a estrutura daqui, eu fiquei assustado, mas considerando que o curso está em processo
de reconhecimento, eu acho que o que tem é muito”. Para o estudante, as principais diferenças entre sua cidade e Barra do Garças são a poluição e o trânsito. “Aqui o trânsito é caótico e irresponsável”. Ele confessa que não gosta da cidade em si, mas aprecia a rotina de estudos e independência. Atualmente, Marcelo está participando do programa de intercâmbio “Ciência Sem Fronteiras”, nos Estados Unidos.

Diferente de Marcelo, a acadêmica de Direito Mariane Oliveira conta que logo se encantou por Barra do Garças mesmo tendo enfrentado algumas dificuldades de adaptação, e só estranhou um pouco o sotaque com “r” puxado dos nativos. Mariane é natural de Taguatinga, Tocantins, e foi de lá que trouxe um produto bastante desejado pelos brasileiros: o capim dourado, que somente se desenvolve no estado de Tocantins. Na nova cidade Mariane já adquiriu um novo costume: incorporou o tereré (bebida gelada feita com mate) em seus hábitos diários. Ela conta que já conhecia a bebida, mas foi somente em Barra do Garças que passou a consumi-la com frequência. Apesar da falta que sente da família e dos amigos, Mariane diz estar  muito feliz, e declara que encontrou novos amigos na sua experiência.

Ainda do Sudeste, encontramos Verônyca Gonçalves Paula. Ela veio de Dom Cavati, cidade que fica a 273 km de Belo Horizonte – MG, para cursar Biomedicina na UFMT. Está no primeiro semestre e quando vai para casa já falam que ela está perdendo o sotaque marcado de mineira.

Ela conta que achou engraçado quando pediu um refrigerante e lhe entregaram o líquido em um saquinho. “Nunca tinha visto uma coisa dessa”.

A estudante sente falta da família, mas nem tanto do famoso pão de queijo mineiro. “Para falar a verdade, eu nem gosto muito de pão de queijo, mas o daqui não é tão bom quanto o de Minas”, diz.
Ocrã Amorim sente falta da família e das festas tradicionais

O Nordeste também tem representantes, só do estado da Bahia são cerca de dez estudantes matriculados na UFMT. Ocrã Amorim é um deles. O estudante de Ciência da Computação tem 21 anos, e é natural de Irecê, cidade localizada a 478 km de Salvador-BA.

Segundo ele, Barra do Garças não lhe deixa faltar nada. “Aqui é bem diferente, é mais organizado, o trânsito, a saúde, o supermercado. Parece que a
cidade foi projetada”. Para ele, o contato com a natureza é um presente, tendo em vista a facilidade de acesso às cachoeiras do parque Serra Azul. Quando o assunto é saudade, ele sente falta da família e das festas tradicionais. Ocrã diz logo: “sinto falta só da minha família, mas os chamo de burros porque não vêm morar aqui”. Na sua cidade, a festa de São João é a mais tradicional, tem duração de quatro dias e acontece há mais de 30 anos na praça principal, com comidas típicas e o tradicional forró nordestino.

A atração para Barra do Garças, por conta das novas vagas, não foi somente de estudantes. Professores efetivos e temporários também fazem parte dessa mistura de regiões.

Prova disso é a professora de Engenharia de Alimentos, Paula Becker Pertuzatti, que é natural de Pelotas RS e mora em Mato Grosso desde 2010. O primeiro estranhamento ao chegar a Barra foi o clima quente, diferente do clima frio de Pelotas.

Como ela não veio direto do Sul para Barra do Garças, antes morou um tempo em Campinas-SP, acredita que o choque cultural não tenha sido tão grande. Mesmo assim percebeu a diferença da cultura dos estados em que morou.

Paula diz que aqui se sente à vontade pelo fato de ter pessoas de várias estados do Brasil: Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará, e que isso faz com que as culturas se misturem. A professora conta que socializou o chimarrão: “todos os amigos já experimentaram”, mas incorporou o hábito de tomar tereré, que é como
o chimarrão, mas com a água gelada. “O tereré é melhor para o calor, mas ainda prefiro o chimarrão”.

Paula afirma que a maior dificuldade encontrada foi em relação à linguagem. Quando começou a dar aula, percebeu que os alunos não entendiam muitas das coisas que ela falava. Hoje ela tenta tomar
um maior cuidado em relação a isso. “Às vezes acontece de eu falar alguma coisa e todo mundo ficar me olhando”.

Quanto à cidade de Barra do Garças, que ela não conhecia, revela que gostou logo que conheceu o centro, o Porto e o Cristo.“Aqui no Mato Grosso as paisagens são exuberantes”.

Texto: Gracielle Soares e Nahida Almeida
Foto: Graci Sá

0 comentários: