Com a adesão ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (ReUni) o Campus Universitário do Araguaia ganhou uma nova unidade, em Barra do Garças, e deu um salto na quantidade de cursos, professores e estudantes, passando a ser o segundo campus da UFMT em números de graduações. Frente a esta expansão a comunidade acadêmica, se preocupa com o destino da unidade I, de Pontal do Araguaia, que está ficando cada vez mais vazia, com a migração de cursos e setores administrativos para a unidade de Barra do Garças. Com o esvaziamento, também foram reduzidos os investimentos na unidade. Diante deste cenário a comunidade acadêmica se pergunta: O que acontecerá com a unidade de Pontal do Araguaia?
“Tenho reafirmado sempre que não há nenhuma intenção e nem ação da UFMT no sentido de desabilitar a unidade que temos em Pontal do Araguaia”, são essas as palavras do pró-reitor do Campus Universitário do Araguaia, José Marques Pessoa, sobre o futuro da unidade. Informação confirmada pela reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder, durante um diálogo com a comunidade acadêmica, no dia 03 de outubro, no auditório da unidade I. A reitora afirmou categoricamente, que a unidade do Pontal continuará sendo um campus da instituição e enfatizou que a universidade não trabalha com política de fechamento, mas sim de expansão. “Somos um Campus, com dois endereços“, destacou. Pessoa reforça. “Nós não queremos fechar. Pelo contrário há a intenção é abrir”, diz o pró-reitor. Maria Lúcia cogitou a possibilidade da abertura de mais 3 campus da UFMT no estado.
Atualmente na unidade de Pontal do Araguaia existem seis cursos em funcionamento, três em período integral e três noturnos. A dinâmica da transferência dos cursos entre as unidades é incerta para a comunidade acadêmica. José Pessoa reitera que na unidade vai continuar tendo aulas normalmente e o que vai definir quais cursos vão ocupar a unidade do Pontal ou da Barra é a dinâmica entre os próprios cursos. “Ninguém forçou a mudança para Barra. Isso é uma decisão de colegiado de curso”, completa o pró-reitor, que reforça que seu compromisso é oferecer estrutura qualificada para o funcionamento dos cursos, onde for de interesse do curso.
O 'Pequizão' é o único transporte para quem tem aula no Pontal |
Isolamento e falta de investimentos
O problema para os estudantes e professores que tem aulas e atividades na unidade de Pontal do Araguaia é a falta de estrutura administrativa e de transporte.
O professor Gilberto Goulart, representante da Associação dos Docentes da UFMT (ADUFMAT) e coordenador do curso de Engenharia de Alimentos, leciona na unidade I. Goulart exerce suas funções, em uma sala sem telefone, e lamenta a falta de contato com a unidade de Barra do Garças. O curso que Goulart coordena é um dos que continua com atividades acadêmicas e administrativas no Pontal, e que enfrenta a falta de apoio administrativo, principalmente após a mudança do Registro Acadêmico para a nova unidade.. “Ou se implanta aqui uma estrutura administrativa mínima, ou se transfere todos cursos para Barra do Garças. Atualmente, o que a gente sabe é que não tem condições nenhuma de ficar aqui no Pontal do jeito que as coisas estão”, diz Goulart.
Para os estudantes, o transporte é também um problema. Desde o início do ano, quando a universidade disponibilizou um ônibus gratuito (o chamado Pequizão) para transitar entre as duas unidades, a concessionária que realiza o transporte coletivo na região, a GarçasTur, retirou de seu percurso a unidade de Pontal. Deste modo, os alunos que necessitam de transporte público para se locomover à unidade, dependem exclusivamente do ‘pequizão’, que é apenas um carro e com horários limitados.
O acadêmico do quarto período de Educação Física, Murillo Rodrigues Soré, é um dos que sofrem com a falta de transporte. Além disso, ela lamenta a falta de interação com os colegas universitários. “A gente chega aqui e fala: Putz! Que campus mais sem ninguém”, diz o estudante.
O professor de Educação Física, Neil Franco reclama da falta de transporte e alerta para a dificuldade de um ensino interdisciplinar. “Não há interação entre os cursos que permanecem na unidade de Pontal, e os cursos que estão em Barra do Garças. A gente está ficando abandonado aqui”, completa.
Para o professor Carlos Habitante, coordenador da Educação Física, o fato dos estudantes terem parte da estrutura e das aulas em um espaço e parte em outra, comprometem a unidade do curso. E a falta de transporte dificulta o deslocamento rápido dos estudantes de uma unidade a outra, que acabam atrasando-se para aulas e reuniões.
A aluna do 2º período de química, Pâmela Patrícia de Queiroz Silva, destaca que os laboratórios utilizados pelo seu curso estão sendo estruturados na unidade de Barra do Garças. “Enquanto isso, tem aulas adaptadas por falta de material“, disse.
A distância dos setores administrativos, sediados na Barra, dificulta as atividades no Pontal |
A biblioteca da unidade, segundo a técnica administrativa, Sirney da Silva Costa, funciona em o prédio construído para sediar um setor administrativo. “Foi uma solução prévia, até que o prédio definitivo ficasse pronto, que ainda não foi construído. Muitos livros estão sendo transferidos para a unidade II“, disse Sirney.
Investimentos
Diante dos questionamentos sobre a falta de investimentos na unidade de Pontal do Araguaia, o pró-reitor, José Marques Pessoa evidenciou que o local continua recebendo recursos. Cita a troca das cadeiras, a pintura e a instalação de novos ares condicionados no auditório, como recentes investimentos realizados. Como projetos em fase de licitação ele destaca o asfaltamento do acesso ao ginásio de esportes, a implantação de um estacionamento amplo e a instalação de dois climatizadores no ginásio. O pró-reitor, com ênfase da reitora, reforçam que a unidade continuará recebendo investimentos.
Passado e Futuro
Diante dos problemas todos apresentados, e a certeza dada pela reitoria, de que a unidade não será abandonada, a pergunta que fica, é que atividades acontecerão nos 64 hectares, dezenas de salas de aulas, 12 laboratórios, núcleos de pesquisa, biblioteca e ginásio de esporte lá instalados.
O professor Paulo Venere alerta que a estrutura no Pontal do Araguaia foi toda construída com recursos públicos. "Com muita luta, coragem e desgastes pessoais. Crescemos numa época de escassez de recursos destinados à educação. Isso é uma parte rica da história da UFMT. ", evidencia o pesquisador.
Adenil da Costa Claro, ex-aluno e atualmente professor da universidade desde 1990, recorda do início das atividades no Pontal “Comemos muita poeira, pois não tinha asfalto e os alunos limpavam seus calçados ao chegar no campus. Hoje o lugar está sombrio e fico triste por ver durante a noite o campus vazio. O professor sugere a instalação no local de um hospital escola e pela estrutura de laboratórios que tem acredita que o indicado é o funcionamento dos cursos da área de saúde e ciências biológicas.
O professor Eliel Ferreira da Silva destaca a estrutura física da unidade e se anima ao falar da possibilidade do funcionamento de cursos de pós-graduação. “Lá tem uma fartura de laboratórios. Você tem a possibilidade de abrigar alguns cursos de mestrado.”, completa Eliel. O professor do Odorico Cardoso Neto também compartilha da ideia do funcionamento dos cursos de pós-graduação nesta unidade.
Existem alternativas para a utilização da unidade de Pontal do Araguaia, porém, ainda não há um projeto definido para este espaço. Nem a reitoria e nem a comunidade acadêmica ainda sabem ou decidiram como aproveitar todo o espaço e infraesturutura. A decisão, porém, não deverá ser tomada de forma isolada. Essa será uma das primeiras funções do Conselho de Campus, que será estruturado no Campus Universitário do Araguaia. O Conselho, que teve sua criação autorizada pela reitora na reunião do dia 03, irá auxiliar na gestão administrativa do Campus, com transparência.
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Texto: Fábio Silva e Sckarleth Martins
Crédito fotos: Fábio Silva
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