17 de agosto de 2013

Intercâmbio: uma experiência mais que acadêmica

Participar de um intercâmbio e passar um período estudando em um país diferente não é enriquecedor somente em termos acadêmicos. Conhecer pessoas diferentes, entrar em contato com culturas e hábitos até então desconhecidos e ter que se virar sozinho em um lugar onde não se conhece ninguém é enriquecedor também no âmbito pessoal. É sobre essa experiência que Jessika Hirata, Brenda Nonato e Júlio César Magalhães, alunos da UFMT/Araguaia conversaram com o InfoCampus:


Desde os 15 anos, quando começou a fazer seu curso de inglês, a estudante de Engenharia Civil Jessika Hirata  tinha vontade de conhecer outros países. Porém, foi só aos 23, após escutar o programa na rádio “A Voz do Brasil”, que resolveu se inscrever no programa de intercâmbio Ciência Sem Fronteiras, mesmo sem ter muita esperança de ser selecionada.
Cerca de um mês depois, Jessika recebeu a notícia de que havia sido aprovada no intercâmbio, e no dia 11 de setembro de 2012, deixou a família em Barra do Garças – MT e embarcou rumo à Portugal. Ela escolheu a Universidade de Coimbra para passar dez meses estudando engenharia civil.
A universitária conta que o começo foi bem impactante, pois tudo era muito diferente. Levou certo tempo para se acostumar com os hábitos e sotaque das pessoas de lá, com a comida e com o frio no inverno. “Apesar de me sentir um pouco ‘desnorteada’ no começo, com o passar do tempo me adaptei e comecei a gostar muito daqui. Até agora a minha experiência em Portugal está sendo ótima, não tenho do que reclamar”, diz Jessika.
Ela também diz que o intercâmbio mudou sua vida: “Além de adquirir conhecimentos novos, o intercâmbio proporciona diversas experiências. A cada dia que passa, vivo e aprendo alguma coisa diferente”. O intercâmbio proporcionou a Jessika adquirir novos conhecimentos que ela poderá dividir com colegas e professores quando retornar. Jessika acredita que a experiência colabora para mudar a forma que vê o
mundo e como pode se relacionar com as pessoas. “Creio que esse intercâmbio será um diferencial para quando eu entrar no mercado de trabalho”, conta a universitária.
Jessika relata que, apesar do Brasil ter sido colonizado por portugueses, existem algumas distinções entre as duas culturas. Ela se deparou com vocábulos diferentes como “rapariga”, que em Portugal é o feminino de rapaz. Quanto à alimentação, os portugueses comem mais carne de porco e frango por serem mais baratas
que a bovina. As frutas mais caras, por incrível que pareça, segundo Jessika, são as importadas do Brasil. No inverno, o clima se resume a frio e muita chuva, nevando em alguns lugares do país e no verão o calor se parece com o brasileiro.

Do choque cultural ao processo de adaptação

Jessika Hirata estuda em Portugal desde setembro do ano passado
Como Jessika, a estudante de Letras, Brenda Nonato também está participando de um intercâmbio em Portugal. Brenda está na Universidade do Porto pelo Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI). Esse programa é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
possibilita que estudantes das universidades brasileiras possam estudar em universidades portuguesas por dois anos, em uma proposta de dupla licenciatura. A finalidade é elevar a qualidade da graduação, tendo como prioridade a melhoria do ensino dos cursos de licenciatura e a formação de professores.
Brenda acredita que a pior parte da adaptação foi a saudade da família, já que nunca tinha passado pela experiência de sair de casa. “Com o passar do tempo fui ficando cada vez mais familiarizada com a cultura lusitana e posso dizer que já me sinto totalmente adaptada”, afirma.
No PLI, o estudante faz o primeiro ano de graduação no Brasil, estuda por dois anos em Portugal e cursa o último ano novamente em sua universidade de origem. Se ele atingir todos os objetivos propostos, será licenciado por duas universidades. Caso contrário, ele continua o curso no Brasil.
Em fevereiro, o professor do curso de Ciências Biológicas, Paulo Venere viajou a Portugal como representante do campus do Araguaia. Durante vinte dias ele acompanhou os alunos da UFMT/CUA que estão vivendo no país há seis meses. O professor passou, inicialmente, pela Universidade do Porto, depois pela Universidade do Algarve, em Faro e por último pela Universidade de Lisboa.
Durante a visita à Universidade do Algarve, o professor pôde conhecer a instituição. “Não faltaram convites para que continuássemos mandando alunos brasileiros para Portugal, pois esse convênio é revertido em benefícios e recursos para as universidades que recebem os estudantes”, conta Venere. O professor acredita que o maior avanço desse intercâmbio é a possibilidade de um aluno do interior de Mato Grosso,
estudante do ensino público, ir à Europa para estudar em uma universidade centenária como a Universidade do Porto, por exemplo. “Isso representa um choque cultural enorme e faz com que eles voltem para o Brasil com uma visão de mundo mais ampla. Com certeza, vão ganhar muito na sua formação geral”, finaliza.
A UFMT mantém, atualmente, 14 alunos estudando em Portugal pelo PLI, sendo sete do campus de Cuiabá e sete do campus do Araguaia, das áreas de Química, Física, Matemática, Biologia, Letras, Artes e Educação Física.

Será que foi um sonho?

Júlio César estudou nas universidades do Algarve e de Coimbra
“Surreal”. É assim que Júlio César Magalhães, estudante de engenharia de alimentos, que participou de intercâmbios em Portugal, define a sua experiência. Ele passou cerca de um ano no país, onde frequentou as universidades do Algarve e de Coimbra , pelo Programa de Intercâmbio Internacional de Graduação (PIIG). O acadêmico não teve nenhum tipo de bolsa durante o tempo que passou em Portugal, por isso teve
que contar com a ajuda dos pais para se manter.
A primeira experiência foi na Universidade do Algarve. Depois do término do semestre, ele recebeu um convite para continuar estudando no país por mais um tempo. Aceitou, mas optou por continuar os estudos em outro local, na Universidade de Coimbra.
Quando chegou a Portugal, Júlio César diz não ter sofrido muito com a adaptação pelo fato de já estudar longe da família. Ele é da cidade de Cruzeiro – SP e faz o curso de graduação em Barra do Garças – MT. O aluno afirma que o intercâmbio foi importante para ver o mundo de outra maneira: “Aprendi a viver mais
ainda e a ser mais responsável”.
O estudante conta que encontrou nas universidades portuguesas diferenças na tradição e nos métodos de ensino. Ele cursou disciplinas que continham apenas uma hora de teoria e os estudos em casa eram muito importantes: “Eles (os professores) estão disponíveis na sala de aula, mas o aluno tem que se empenhar”.
Se alguns alunos têm dificuldade de se adaptar em um novo país, o estudante teve dificuldades para se readaptar a rotina que deixou aqui no Brasil. “Você mudou, mas o mundo não mudou”, sintetiza. “Tem até estudos dizendo que você demora três meses para se acostumar no intercâmbio. Depois que volta, demora um ano e meio para se readaptar no Brasil”, explica.
Depois de voltar ao Brasil, ele foi até a cidade de Uberlândia – MG reencontrar alguns colegas brasileiros da época do intercâmbio. Quando chegou ouviu a seguinte pergunta: “Você tem a sensação de que aquilo foi um sonho?”

Texto: Letícia Baialardi, Yrla Braga, Arthur Arantes Bilego e Nahida Almeida
Fotos: Arquivo Pessoal

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